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Publicado: 22/10/2010 em Livro das Vozes

Nabi e Raki. Duas raposas. Irmãos. Sua mãe havia sumido anos atrás. Fora caçar e nunca mais voltará. Cresceram juntos. Um a proteger o outro. Viviam a pregar peças nos humanos. Soltavam os porcos, roubavam tortas que ficavam nas janelas, sujavam as roupas nos varais, defecavam nas portas da frente, corriam em volta das senhoras para que perdessem o equilíbrio e derrubassem as compras. Adoravam brincar com as crianças nas praças. Riam dos humanos confusos com suas travessuras. Fugiam dos cães e dos tiros de sal logo em seguida.
Mais um dia. Estava tudo muito silencioso. Limpo. O dia seguiu normalmente. O dia acabou. Não apareceram. Mais um dia. E outro. Sem fezes nas portas da frente, roupas limpas nos varais, tortas intactas, porcos nos seus lugares. Paz. Outro dia. Nada. Outra semana. Outro mês. De inicio os humanos se sentiam ótimos sem as travessuras das raposas. Outro mês. E outro. Nada era mais o mesmo. Crianças entediadas, adultos a espera de qualquer travessura para agitar um pouco o seu dia. Tanta paz incomodava. De certa forma, gostavam das duas raposas. Eles eram parte de suas vidas, integrantes daquele vilarejo. Resolveram criar um grupo de busca. Queriam descobrir o que ouve com a dupla travessa. Andaram por horas floresta adentro. Dois dias. Um deles avista algo correndo na floresta. É Raki. O seguem. Chegam a uma gigantesca árvore. Nabi estava deitada ao pé da árvore amamentando seus três filhotes. “Nabi é fêmea?” foi o pensamento de todos os humanos que ali se encontravam. Raki estava trazendo comida para a irmã. Os humanos se emocionam com a cena. Descuidam-se. Um barulho. Uma mexida forte demais em um galho de arbusto. Nabi e Raki imediatamente acham os humanos escondidos. Raki salta na frente de Nabi. Rosna.
– Vão embora agora!
– Porque está tão furioso conosco? Somos os homens do vilarejo que vocês sempre visitam. Não nos reconhece?
– Eu sei disso. Descobrimos que foram vocês, humanos, que mataram a nossa mãe e depois mataram o pai dos filhotes de Nabi. Nós os deixamos em paz, então nos deixe também. Vão embora!
– Não viemos para atacá-los. Não fomos nós que matamos a sua mãe nem o pai dos filhotes de Nabi.
– Como posso saber? Vocês são todos iguais e portam as mesmas armas.
– Confie em nós. Não queremos fazer mau algum a vocês.
– Então o que querem?
– Estávamos preocupados com vocês. O vilarejo não é o mesmo sem vocês.
Raki levanta a cabeça e ergue as suas orelhas pontudas. Está surpreso.
– Não entendo. Depois de tudo que fizemos a vocês…
– De certa forma, vocês agitavam os nossos dias, divertiam nossas crianças. Vocês se tornaram moradores daquele vilarejo assim como nós.
Raki não sabia o que dizer. Era um momento de conciliação. Sentia que durante esse tempo todo eles eram como uma família para ele. Nabi e Rabi estavam felizes por aquelas palavras confortantes. Os humanos ficaram mais alguns momentos a conversar com as raposas. A admirar e mimar os filhotes. A rirem como amigos em um bar. Decidiram deixar a família de raposas vermelhas mais algumas semanas na floresta para que os crescessem do modo natural para depois irem para o vilarejo. Os humanos prometeram vigiar a floresta para evitar caçadores durante esse período. Alguns meses se passaram. O casal de irmãos raposas volta para o vilarejo. Os filhotes de Nabi vêm logo atrás da mãe, todos tímidos. Foram recebidos com alegria e festa por todos. Logo os filhotes perdem a timidez e se divertem com as crianças enquanto os adultos bebem e dançam junto às raposas. Os irmãos continuavam a brincar com as crianças pelas ruas e raramente pregavam peças com os humanos. Ajudava-os a caçar alimentos. Passaram a arte de pregar peças com os humanos para os filhotes, que, por sinal, aprenderam bem e rápido.

by: Alan

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