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Publicado: 11/09/2010 em Livro das Vozes

Era uma vez uma cidade. Uma cidade cinza. Se tornará inteiramente cinza a muitos anos. As pessoas da cidade esqueceram as cores. Vestiam cinza. A cidade funcionava normal. Os carros alimentavam o cinza do céu. A solidão e a indiferença alimentavam o cinza dos pobres. A ganância e o descaso alimentavam o cinza dos ricos. A ignorância, o vicio e a violência alimentam o cinza das pessoas comuns. Hans não era uma pessoa comum. Era cinza como as outras pessoas. Vestia cinza como as outras pessoas. Mas seu coração não era cinzento como de todos os outros. Hans vira virá uma pequena planta crescendo em um terreno abandonado. Não havia plantas na cidade cinza. Hans se maravilhava com o pequeno vegetal. Era verde. Teve que correr. Estava atrasado para o trabalho. Hans amava uma garota. Ela aparentava ser uma cinzenta como todos os outros. Mas ele a amava. Ele sabia que no fundo ela era totalmente cinzenta. Sabia que seu coração era vermelho como o seu. Mas ele não conseguia alcançá-la. Então ele fugiu. Correu para além da cidade, para a floresta. Bebeu água do rio, comeu frutas das árvores, dormiu na grama. Sua pele ia ficando avermelhada, levemente rosada. Amava estar naquele lugar. Mas amava mais ainda a garota. Sentia algo lhe dizendo para voltar. Levantou-se. Avistou algo. Exatamente o que precisava. Hans resolveu voltar. Do que vale salvar a si mesmo se não pode salvar quem se mais ama? Não correu. Caminhou pela cidade. As pessoas paravam e o encaravam. Perguntavam-se o que era aquilo que trazia em sua mão. Ele não desviou o olhar. Tinha uma convicção, um objetivo, um destino. A encontrou. Parou a sua frente, ajoelhou. Estendeu a rosa vermelha que trazia consigo. Uma rosa tão vermelha quanto sangue. Um ínfimo ponto vermelho em uma cidade cinza. Os olhos da garota cresceram. Ela chorou. Era seu aniversario. Não dissera a ninguém, pois tinha medo que a descriminassem, mas seu maior desejo era sentir amor, sentir cor. Ela perguntou como ele sabia. Ele disse que apenas sabia, não se sabe como, mas apenas sabe. Ela o abraçou até sua pele começar a ficar levemente rosada também. A pequena planta que Hans encontrará ia se revelando serenamente um belo e pequeno dente de leão.

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