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Publicado: 02/09/2010 em Livro das Vozes

Acordo. O relógio marca uma e vinte e dois. Não me lembro do sonho. Fito o teto. Minha garganta está seca. Bebo um pouco d’água e tento voltar a dormir. Olhos fechados. Mente negando qualquer pensamento, raciocínio. Apenas dormir. Uma presença. Silêncio. Um lobo está parado frente à porta do quarto. Negro, grande, forte, olhos brancos. Ficamos imóveis. Sem desviar o olhar. Desespero. Não pelo fato de ter um lobo gigante cobrindo a única saída do quarto, mas pelo fato de estar vendo um lobo gigante. Meu cão não latiu. A porta foi aberta. Um sonho? Não. Alucinação. Ainda
permanecemos imóveis.
– Quem é você?
Só percebo a pergunta depois de tê-la feito. Não responde. Ouço minha própria respiração. Meu coração ecoando dentro de mim. O lobo se move. Aproxima-se. Meus olhos o seguem. Sobe na cama. Face a face. Seu pelo está molhado e gélido. De alguma forma sei que é neve derretida. Tem três cortes no canto esquerdo da boca. Não rosna, apenas olha em meus olhos. Não sinto mais medo, apenas não entendo.
– Precisamos da primavera para acabar com a guerra. Quando ela virá?
O que? O que isso quer dizer? O lobo fita um pouco mais meus olhos. Caminha em direção da porta. Para. Vira-se e repete.
– Quando ela virá?
Meus olhos denunciam meu desentendimento. Reparo novamente. Algo divide o pelo no pescoço. Um pingente. É o meu pingente. O lobo volta à porta. Desaparece na escuridão do canto. O pingente esclarece tudo. Não foi um sonho. Não volto a dormir naquela noite. Não há mais como negar os pensamentos agora.

by: Alan

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