021

Publicado: 20/11/2010 em Livro das Vozes, Poemas

"e segue com seus passos tortos... aquele bobo..."
Bobo da corte não vira rei
Bobo da corte não é herói
Bobo da corte não ama
Bobo da corte não chora
Bobo da corte não fica triste
Bobo da corte não sente prazer
Bobo da corte sempre sorri
Bobo da corte não tem sentimentos próprios
Bobo da corte não tira o seu chapéu colorido
Bobo da corte simplesmente faz os outros rirem
Bobo da corte perde a sua existência quando não riem de suas piadas
Bobo da corte sozinho morre
Bobo da corte sem nome

 

 

by: Alan

020

Publicado: 18/11/2010 em Livro das Vozes

– Deseja algo para beber, senhor?
– Vodka.
O garçom virou-se e pegou uma garrafa atrás de si. Fez um pequeno movimento artístico no ar com a garrafa com a intenção de despejar uma pequena quantia do liquido transparente dentro de um pequeno copo a frente do rapaz. O mesmo não deu importância ao espetáculo. Pegou a garrafa. Onze segundos. Em onze segundos o rapaz devolveu a garrafa vazia para o jovem garçom que ficou a observá-lo durante todo o processo e saiu. O rapaz puxou um jornal que se encontrava jogado sobre o balcão a sua direita. Deixou seus olhos castanhos claros percorreram as folhas.
– As noticias são de ontem.
O rapaz abaixou o jornal para ver quem fizera o comentário.
– Lembro-me desta tirinha. Está é a minha sessão favorita, e a sua?
Era um senhor. Media de uns cinqüenta e seis anos. Uma barba por fazer e cabelos igualmente monocromáticos. Um chapéu preto e uma bengala se destacavam. Seus olhos, tão escuros como a sua pele, fitavam o jornal com interesse.
– Desculpe-me, mas não tenho nenhum trocado.
O senhor continuou admirando o jornal e não disse nada.
– Está me ouvindo? Não tenho ne…
– Porque você sempre foge de mim, Steve?
Silêncio. O rapaz ficou sem reação e o velho ainda não havia tirado os olhos do jornal.
– Quem diabos é vo…
– Teve aquela vez na sétima serie. Porque não pediu a sua professora para que explicasse novamente o exercício em vez de ter dito que entenderá? Você tirou nota vermelha apenas por falta deste ato.
O velho tirou a sua atenção do jornal e se sentou na frente do rapaz. Continuou:
– Ou porque não convidou a Jessica para ir á festa em vez de ir com a chata da Carmen? Ou porque não se inscreveu naquele curso de dança que tanto desejou?
Os olhos do velho finalmente se voltaram para o rapaz.
– Olha aqui meu senhor, não sei do que você está falando. Nunca o vi na minha vida. Quem você pensa que é para ficar citando a minha vida?
– Claro que nunca me viu. Como eu já disse, você fugiu de mim a vida toda. Fugiu quando decidiu fazer faculdade de Engenharia em vez de Artes Cênicas, quando deixou de chegar junto daquela garota na balada de antes de ontem, quando nem tentou recusar o cigarro que os amigos lhe ofereceram e que o deixou viciado, quando desistiu de comprar flores para a sua ex-namorada depois te disserem que era muito brega. Você sempre teve medo de você mesmo, do que você é realmente e do que as pessoas pensam de você. Você nunca deu uma única chance a si mesmo e se arrepende disto. Mas, eu tenho uma boa noticia para você: O único obstáculo, o seu único inimigo é você mesmo.
O rapaz já ia perdendo a paciência. Levantou-se.
– Que tipo de maníaco é você? Porque está me perseguindo?
O velho sorriu. Levantou-se. Colocou a mão em um dos bolsos internos do blazer a buscar algo.
– Quando estiver a fim de realmente começar a viver a sua vida, me procure.
Saca um cartão de apresentação do bolso. Entregou ao rapaz. Voltou seus olhos para o velho novamente. Ele havia sumido. O cartão possuía apenas uma palavra:

“RIDICÚLO”.

 

by: Alan

019

Publicado: 22/10/2010 em Livro das Vozes

Nabi e Raki. Duas raposas. Irmãos. Sua mãe havia sumido anos atrás. Fora caçar e nunca mais voltará. Cresceram juntos. Um a proteger o outro. Viviam a pregar peças nos humanos. Soltavam os porcos, roubavam tortas que ficavam nas janelas, sujavam as roupas nos varais, defecavam nas portas da frente, corriam em volta das senhoras para que perdessem o equilíbrio e derrubassem as compras. Adoravam brincar com as crianças nas praças. Riam dos humanos confusos com suas travessuras. Fugiam dos cães e dos tiros de sal logo em seguida.
Mais um dia. Estava tudo muito silencioso. Limpo. O dia seguiu normalmente. O dia acabou. Não apareceram. Mais um dia. E outro. Sem fezes nas portas da frente, roupas limpas nos varais, tortas intactas, porcos nos seus lugares. Paz. Outro dia. Nada. Outra semana. Outro mês. De inicio os humanos se sentiam ótimos sem as travessuras das raposas. Outro mês. E outro. Nada era mais o mesmo. Crianças entediadas, adultos a espera de qualquer travessura para agitar um pouco o seu dia. Tanta paz incomodava. De certa forma, gostavam das duas raposas. Eles eram parte de suas vidas, integrantes daquele vilarejo. Resolveram criar um grupo de busca. Queriam descobrir o que ouve com a dupla travessa. Andaram por horas floresta adentro. Dois dias. Um deles avista algo correndo na floresta. É Raki. O seguem. Chegam a uma gigantesca árvore. Nabi estava deitada ao pé da árvore amamentando seus três filhotes. “Nabi é fêmea?” foi o pensamento de todos os humanos que ali se encontravam. Raki estava trazendo comida para a irmã. Os humanos se emocionam com a cena. Descuidam-se. Um barulho. Uma mexida forte demais em um galho de arbusto. Nabi e Raki imediatamente acham os humanos escondidos. Raki salta na frente de Nabi. Rosna.
– Vão embora agora!
– Porque está tão furioso conosco? Somos os homens do vilarejo que vocês sempre visitam. Não nos reconhece?
– Eu sei disso. Descobrimos que foram vocês, humanos, que mataram a nossa mãe e depois mataram o pai dos filhotes de Nabi. Nós os deixamos em paz, então nos deixe também. Vão embora!
– Não viemos para atacá-los. Não fomos nós que matamos a sua mãe nem o pai dos filhotes de Nabi.
– Como posso saber? Vocês são todos iguais e portam as mesmas armas.
– Confie em nós. Não queremos fazer mau algum a vocês.
– Então o que querem?
– Estávamos preocupados com vocês. O vilarejo não é o mesmo sem vocês.
Raki levanta a cabeça e ergue as suas orelhas pontudas. Está surpreso.
– Não entendo. Depois de tudo que fizemos a vocês…
– De certa forma, vocês agitavam os nossos dias, divertiam nossas crianças. Vocês se tornaram moradores daquele vilarejo assim como nós.
Raki não sabia o que dizer. Era um momento de conciliação. Sentia que durante esse tempo todo eles eram como uma família para ele. Nabi e Rabi estavam felizes por aquelas palavras confortantes. Os humanos ficaram mais alguns momentos a conversar com as raposas. A admirar e mimar os filhotes. A rirem como amigos em um bar. Decidiram deixar a família de raposas vermelhas mais algumas semanas na floresta para que os crescessem do modo natural para depois irem para o vilarejo. Os humanos prometeram vigiar a floresta para evitar caçadores durante esse período. Alguns meses se passaram. O casal de irmãos raposas volta para o vilarejo. Os filhotes de Nabi vêm logo atrás da mãe, todos tímidos. Foram recebidos com alegria e festa por todos. Logo os filhotes perdem a timidez e se divertem com as crianças enquanto os adultos bebem e dançam junto às raposas. Os irmãos continuavam a brincar com as crianças pelas ruas e raramente pregavam peças com os humanos. Ajudava-os a caçar alimentos. Passaram a arte de pregar peças com os humanos para os filhotes, que, por sinal, aprenderam bem e rápido.

by: Alan

018

Publicado: 05/10/2010 em Livro das Vozes

Era uma vez um gato que havia ficado preso em uma árvore. Ele miou e miou por varias horas, mas ninguém o ouviu. Então apareceu um cachorro com um brinco na orelha direita. Ele ouviu os miados. Perguntou o motivo do barulho e o gato respondeu q estava preso.
– Um gato preso em uma árvore… Irônico… É assim q pretendem dominar o mundo?
– Foi apenas um pequeno erro de calculo. Por favor, me ajude.
– Como? Sou um cão, ñ subo em arvores.
O gato perceber o fato inconveniente. Não tinha amigos para chamar. Estava sozinho naquela árvore. O cão se comoveu e começou a tentar subir na arvore. Levou horas, se machucou diversas vezes com arranhões e quedas, mas consegui chegar até o gato.
– Como desceremos agora?
– Não havia pensado nessa parte…
– De qualquer forma, obrigado.
– Não me agradeça ainda. Não descemos ainda.
– Mas você se esforçou para subir. Isso já vale muito.
– Tive uma idéia. Suba em minhas costas.
O gato subiu. O cão desceu até o ultimo galho possível e tentou deslizar com as unhas no tronco da arvore. Caíram poucos metros acima do chão. O gato não se machucou. Caiu em cima do cão.
– Porque se esforçou tanto por mim? Nem ao menos me conhece? Poderia ter se matado, no mínimo quebrado uma pata.
– Ora… Se ñ me esforçar para salvar alguém, então me esforçar pelo o que? Se não me sacrificar por um amigo, me sacrificar pelo o que?
– Já me considera um amigo?
– Caso não queira minha amizade, tudo bem. Já foi. Não me arrependo.
– Por quê?
– Porque naquele momento, para mim, valia a pena me esforçar por você.
Silêncio. O cão seguiu o seu caminho enquanto o gato o olhava partir. Alguns segundos. Foi atrás dele.

by: Alan

017

Publicado: 11/09/2010 em Livro das Vozes

Era uma vez uma cidade. Uma cidade cinza. Se tornará inteiramente cinza a muitos anos. As pessoas da cidade esqueceram as cores. Vestiam cinza. A cidade funcionava normal. Os carros alimentavam o cinza do céu. A solidão e a indiferença alimentavam o cinza dos pobres. A ganância e o descaso alimentavam o cinza dos ricos. A ignorância, o vicio e a violência alimentam o cinza das pessoas comuns. Hans não era uma pessoa comum. Era cinza como as outras pessoas. Vestia cinza como as outras pessoas. Mas seu coração não era cinzento como de todos os outros. Hans vira virá uma pequena planta crescendo em um terreno abandonado. Não havia plantas na cidade cinza. Hans se maravilhava com o pequeno vegetal. Era verde. Teve que correr. Estava atrasado para o trabalho. Hans amava uma garota. Ela aparentava ser uma cinzenta como todos os outros. Mas ele a amava. Ele sabia que no fundo ela era totalmente cinzenta. Sabia que seu coração era vermelho como o seu. Mas ele não conseguia alcançá-la. Então ele fugiu. Correu para além da cidade, para a floresta. Bebeu água do rio, comeu frutas das árvores, dormiu na grama. Sua pele ia ficando avermelhada, levemente rosada. Amava estar naquele lugar. Mas amava mais ainda a garota. Sentia algo lhe dizendo para voltar. Levantou-se. Avistou algo. Exatamente o que precisava. Hans resolveu voltar. Do que vale salvar a si mesmo se não pode salvar quem se mais ama? Não correu. Caminhou pela cidade. As pessoas paravam e o encaravam. Perguntavam-se o que era aquilo que trazia em sua mão. Ele não desviou o olhar. Tinha uma convicção, um objetivo, um destino. A encontrou. Parou a sua frente, ajoelhou. Estendeu a rosa vermelha que trazia consigo. Uma rosa tão vermelha quanto sangue. Um ínfimo ponto vermelho em uma cidade cinza. Os olhos da garota cresceram. Ela chorou. Era seu aniversario. Não dissera a ninguém, pois tinha medo que a descriminassem, mas seu maior desejo era sentir amor, sentir cor. Ela perguntou como ele sabia. Ele disse que apenas sabia, não se sabe como, mas apenas sabe. Ela o abraçou até sua pele começar a ficar levemente rosada também. A pequena planta que Hans encontrará ia se revelando serenamente um belo e pequeno dente de leão.

016

Publicado: 08/09/2010 em Livro das Vozes

Mais um dia comum. Seu despertador o acorda às oito horas como sempre. Sente sono. Cairá no sono lá pelas duas da manhã. Silêncio no pequeno apartamento. Apenas um dia comum. Banho, café da manhã, leitura matinal. Desce as escadas. Nunca usa o elevador para descer. Um “olá” para um vizinho. Outro “olá” para outro vizinho. Não lembra seus nomes, nem mesmo se esforça para lembrar. Apenas um “olá” está ótimo. Para ele aqueles vizinhos existem apenas por aqueles pequenos segundos. Três segundos. Os vê todos os dias, mas eles existem apenas dentro daqueles pequenos segundos. Um “olá” com um pequeno sorriso no rosto. Não podemos esquecer o sorriso. Não importa como nos sentimos. Dizemos “olá” com um pequeno sorriso, que, como estes vizinhos, deixam de existir assim que passamos pela pessoa cumprimentada. Chega ao metrô. Às vezes tem lugar para se sentar. Às vezes não. Toma um livro em uma das mãos. Avança pelas paginas, vivenciando uma aventura que toma a atenção de sua mente. Faz com que não perceba direito o tempo passar. As pessoas do metrô, assim como os vizinhos, são seres relativos. Nascem assim que passam pela porta do metrô e seus olhos os percebem. Voltam para a inexistência assim que desembarcam em suas estações.
Estação Sé. Desembarquem pelo lado esquerdo do trem.
Chegou. Centenas de pessoas desembarcam juntas. Cada um com seu destino, seus interesses, mas, naquele momento, estavam juntas, mas totalmente individuais. Um grupo sincronizado de individuais. Anda em direção as escadas. A sua frente está os trilhos que levam trens no sentido contrario ao seu. Um olhar de relance. Uma simples passada de olhos inocente e a vê. Parada, do outro lado da plataforma, individual em seu grupo. O tempo para de correr e passa a caminhar a passos de lesma preguiçosa. Ela olha impaciente para o túnel do metrô que, para o seu alivio, já está chegando. Olha para frente. O vê também. O trem entra na estação. Seus olhares se cruzam. Vê nos olhos dela algo que ainda não consegue explicar. Não sabe por que nem como, mas a sente de forma extremamente agradável. Passa amá-la. E vê seus olhos brilharem também. Vê que ela também passou a amá-lo. Seu coração da um salto. Abre suavemente a boca para dizer algo que não sabe o que. Tenta estender o braço mesmo sabendo que não a alcançará. O metrô tampa a sua visão. Tenta vê-la através das janelas do metrô. Está muito lotado. A perdeu. As pessoas que desembarcaram do seu trem ainda passam a sua volta, dirigindo-se para os seus destinos. O metro apita. Fecha as suas portas. Parte com ela. Ao sair, traz além do vento, sua mente de volta ao tempo real. Tudo ocorreu em apenas treze segundos. Em apenas treze segundos aprendeu a amá-la e a desejar mais que muitas coisas que as pessoas julgariam de extrema importância, como carros, casa, filhos, felicidade. Mas ela partiu. Assim como as pessoas a sua volta, foi em direção ao seu destino. Abaixa a cabeça. Nunca mais irá vê-la novamente. Sabe disto. Seu corpo foi para a inexistência junto com o metrô e todo aquele grupo de individuais. Busca algo para olhar a sua volta. Não a deixará cair totalmente na inexistência. Ela sempre existirá em sua mente. Nunca irá esquecê-la. A garota que o fez amá-la em apenas treze segundos. Toma o seu caminho. Assim como a garota que acabará de aprender a amar, tem seu destino. Apenas mais um dia incomum.

015

Publicado: 05/09/2010 em Livro das Vozes, Poemas

E o mundo gira
De todas as qualidades
O mundo gira
De todas suas desgraças
O mundo gira

Entramos nesta roda gigante
Juntos, viemos de baixo

Entramos juntos
E juntos subimos
Conhecendo-nos
A roda gigante para
Vemos o mundo.

Estamos felizes juntos
As luzes da cidade chamam nossos olhos.
O parque a nossa volta nos faz sorrir
Os palhaços lá em baixo nos fazem rir
Seus olhos me fazem sentir seguro

Estamos felizes juntos
No alto desta roda gigante

Mas, algo muda
A roda gira
Seus olhos mudam
Então descemos

Imploro para voltar
Imploro para parar
Juras para fazer tudo voltar
Mas a roda gira
E voltamos novamente para o chão

Ela se vai
Sem nada a dizer
Sozinho
Nesta roda gigante
Não sinto vontade mais de voltar

A roda gigante fica aberta
Ela voltará?
Ou alguém tomará o seu lugar?
Não importa.
A roda sempre irá girar.

by:Alan

014

Publicado: 02/09/2010 em Livro das Vozes

Acordo. O relógio marca uma e vinte e dois. Não me lembro do sonho. Fito o teto. Minha garganta está seca. Bebo um pouco d’água e tento voltar a dormir. Olhos fechados. Mente negando qualquer pensamento, raciocínio. Apenas dormir. Uma presença. Silêncio. Um lobo está parado frente à porta do quarto. Negro, grande, forte, olhos brancos. Ficamos imóveis. Sem desviar o olhar. Desespero. Não pelo fato de ter um lobo gigante cobrindo a única saída do quarto, mas pelo fato de estar vendo um lobo gigante. Meu cão não latiu. A porta foi aberta. Um sonho? Não. Alucinação. Ainda
permanecemos imóveis.
– Quem é você?
Só percebo a pergunta depois de tê-la feito. Não responde. Ouço minha própria respiração. Meu coração ecoando dentro de mim. O lobo se move. Aproxima-se. Meus olhos o seguem. Sobe na cama. Face a face. Seu pelo está molhado e gélido. De alguma forma sei que é neve derretida. Tem três cortes no canto esquerdo da boca. Não rosna, apenas olha em meus olhos. Não sinto mais medo, apenas não entendo.
– Precisamos da primavera para acabar com a guerra. Quando ela virá?
O que? O que isso quer dizer? O lobo fita um pouco mais meus olhos. Caminha em direção da porta. Para. Vira-se e repete.
– Quando ela virá?
Meus olhos denunciam meu desentendimento. Reparo novamente. Algo divide o pelo no pescoço. Um pingente. É o meu pingente. O lobo volta à porta. Desaparece na escuridão do canto. O pingente esclarece tudo. Não foi um sonho. Não volto a dormir naquela noite. Não há mais como negar os pensamentos agora.

by: Alan

013

Publicado: 17/08/2010 em Livro das Vozes

Era uma vez, uma garota. Uma pequena garota que não era como outras garotas. Ela se sentia só. Muitos garotos a achavam linda. Mas ela ñ queria nenhum deles. Não consegui gostar de nenhum deles. Sentia-se só. Escondia-se no dia dos namorados. Sentava no telhado de sua escola. Ficava a olhar as pessoas passarem. Casais passando. Gostava de fogos de artifício. Gostava de olhá-los em um lugar só seu. Longe. Ano novo. Estava a ver os fogos de artifícios no seu lugar secreto. O telhado do prédio mais alto da cidade. Eram lindos. Mas estava triste. Sentia frio.
– Os fogos ficam melhores vistos daqui de cima.
Vira-se. Uma garota. Cabelos vermelhos.
– Sente aqui. Ficar em pé apenas ira te cansar.
– Como achou esse lugar?
– Vi uma porta aberta e passei. Pareceu-me bem atrativo.
– Qual o seu nome?
– Que diferença faz? Você ira se lembrar amanhã?
– Talvez.
Encaram-se. Silêncio. Os fogos iluminavam seus rostos. “Ela é muito bonita” pensa.
– Façamos assim. Se eu me tornar alguém importante para você, você me dirá o seu nome. Se você se tornar para mim eu direi o meu.
– Porque esse jogo?
– Não é um jogo. Não quero que você desperdice o seu nome e eu não quero desperdiçar o meu.
– E como faremos isso?
– Pode começar a contar o porquê esta aqui sozinha.
Conversaram. Não olhavam para diretamente para os fogos. Seus olhos os refletiam. As cores dançavam em seus olhos. Conversaram até amanhecer.
Semanas passam. Conheciam-se. As pessoas diziam que sua nova amiga era estranha. Diferente. Não era boa companhia. Mas apenas com ela a garota não se sentia mais sozinha. Ela era a única que sempre estava do seu lado. Apoiava-a. Ajudava-a. Protegia-a.
Dia dos namorados. A garota estava novamente sozinha sentada no telhado da sua escola. Mesmo tendo uma amiga, ainda era dia dos namorados. Já desistira. Não se sentia mais tão ruim nestes dias. Já não chorava mais. Apenas frio. Sempre sobreviverá. Isso não iria mudar. Estava bem assim. Ver casais passando.
– Você tem um bom gosto para vistas.
Era ela.
– Como me achou aqui?
– Não sei. Apenas sabia que estava aqui.
– Não faz muito sentido.
– Muitas coisas não fazem sentido.
Senta-se ao seu lado.
– Não precisava ter feito aquilo por mim hoje.
– Ele estava bêbado. Queria te beijar a força.
– Mas você se machucou por causa disso. Se ficar me protegendo assim sempre vai se ferir mais. Não é a primeira vez que isto acontece.
– Há algumas coisas que vale a pena perder um pouco de sangue.
Silencio. Ficam um tempo a olhar as pessoas. Pessoas felizes. Casais.
– Você não precisa estar aqui sozinha. Há muitas pessoas que queriam estar lá embaixo com você.
– Eu sei.
– Então por quê?
Suspiro.
– Todos parecem iguais. Todos cinzas. Não consigo gostar de ninguém.
– De ninguém?
Silêncio. Olhos a se encarar. Cabelos a dançarem ao vento.
– Sara.
– Amanda.
Um momento. Um longo silêncio. Um beijo. Tão suave. Macio. Não havia mais frio.

by: Alan

012

Publicado: 08/08/2010 em Sem categoria

Era uma vez um poeta.  O melhor poeta que ja existiu. Contava belas historias para o rei e todo o povoado. Todos os dias. Todos o amavam. Um dia o bispo anunciou que as pessoas de olhos vermelhos eram demônios. Ordenou que todos os demônios deveriam ser mortos para serem purificados. Anunciou que todos os que ajudassem os “demônios” deveriam ser “purificados” também. Não ouve mais histórias. O poeta foi morto. Todos o odiavam.

by: Alan